quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Discursos Sinceros

Por Paulo Rebelo


O mundo gira, os anos passam, o buraco de ozônio aumenta e as pessoas continuam a acreditar em discursos seculares sem propósito algum.

Vamos nos separar, mas vamos continuar amigos, diz a fulana para as colegas na academia de ginástica. Por mais que você acredite neste discurso, no fundo sabe ser humanamente impossível gostar muito de alguém e vê-la nos braços de outra pessoa e ainda ser aquele amigo para as horas de angústia ou alegria.

É balela do tipo premium.
Convívio civilizado não é amizade. E às vezes é pura necessidade quando há filhos na equação.
Ex-namorados podem ser amantes, nunca amigos. Se forem, na prática é porque nunca sentiram nada realmente comovente ou foi só um passatempo ou namorico de adolescência.
Em geral, um dos dois sempre vai gostar mais do que o outro. E não vai engolir essa de amizade depois que a gente vai embora. Até tentam, mas não leva muito tempo para um dos lados pedir penico e sumir do mapa. A gente conhece outras pessoas, se apaixona novamente, casa e tem filhos, se separa, casa de novo, mas ninguém fica amigo de ninguém.

Se nem Albert Einsten conseguiu decifrar os mistérios matemáticos do tempo, os casais acham que vão conseguir a proeza quando pedem “um tempo”. Metade das vezes, se você pede um tempo é porque está de olho em outra pessoa e quer ter a certeza que vai dar certo com ele (ou ela), nunca é para refletir coisa alguma. Na outra metade das vezes, é um jeito relativamente sincero de dizer que aquilo não vai dar certo em tempo algum.

Em uma pequena parcela das situações, os casais voltam a se encontrar depois do tal tempo. E até tentam se reconciliar. E funciona até o dia em que você descobre que o tempo serviu para um dos lados dormir com 37 pessoas diferentes que vão se transformar em 37 fantasmas iguais.
Mas os dois melhores discursos são mesmo o da fidelidade e o do ex-marido.

Quando uma mulher compromissada vira para você e faz questão de dizer que é “super fiel”, pode pedir a conta do jantar e ir para o motel. É batata.

Se alguém lhe diz que nunca fez “isso” antes, é porque já pulou mais cercas do que as ovelhinhas carnudas de Abrãao no Velho Testamento.

Fidelidade nunca foi um registro em cartório. Se alguém precisa dizer com todas as letras, é melhor você aceitar – ou aproveitar! – porque é exatamente o inverso.

E se a pessoa na sua frente falar mal do ex-marido ou ex-esposa, esqueça. É tesão enrustido, no mínimo. Perceba como todo ex-marido é cafajeste, cachorro, egoísta, não vale um centavo. E toda ex-mulher é louca, surtada, ignorante e ruim de cama.

O mais lógico seria a gente perguntar: e você precisou casar com ele para descobrir?
Nada, foi preciso mesmo casar e ter filhos para descobrir a verdadeira face do mal, do carcará, do anhangá-tinhoso, do cão chupando manga, do belzebu disfarçado de ex-marido.

Mas a gente mantém a civilidade e concorda, faz até coro e dá apoio, principalmente se a divorciada for bonita. Mesmo quando a gente acha que em boca fechada não entra mosquito. Vai que no futuro sobra uma casquinha para você, né?

Não tem jeito, nem assim, todos vão continuar falando mal do ex para todos os novos pretendentes, como se fosse um atestado de interesse por você.

Os discursos são realmente infáliveis e a lista é extensa. Tem o tal do “foi só um beijo”, tem aquele “somos apenas bons amigos”, além do imbatível “foi apenas uma vez” ou “não significou nada”. Geralmente não significa nada mesmo, o problema é definir o grau de intensidade do “nada” para você e para ela.

Às vezes a gente gosta tanto de alguém que ainda acredita nessas pequenas mentiras mesmo quando não acreditamos nem no começo. É o tal do bem maior. Ou do medo de perder, sem entender que às vezes a perda é o nosso maior ganho.

O problema do discurso não são as palavras em si, é a necessidade que as pessoas têm de querer empurrar essas mentiras verdadeiras goela abaixo. Dos outros. É como uma verdade universal oriunda de uma sinceridade que simplesmente não existe.

No dia que a gente aprender a dar menos valor às palavras e mais valor às atitudes, quando uma pessoa abrir a boca para soltar um discurso infálivel você pode voltar para casa com a consciência tranquila por ter ido embora antes de ouvir o resto da história.

Evidente, seria um mundo inalcançável quando as mulheres vão parar de fazer questão de mostrar às amigas o namorado novo, mesmo sem gostar dele. Até esse dia, resta-nos a complacência de ouvir um clássico “não sinto mais nada por você” e ver nos olhos dela que bastaria o som do primeiro pingo de chuva no chão para ela jogar tudo para o alto e entrar no primeiro táxi com você rumo ao desconhecido.

Porque discurso sincero de verdade é aquele que a gente não responde falando. Muito menos escrevendo.

http://www.rebelo.org/hipopocaranga/2009/discursos-sinceros/

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Da chegada do Amor


Sempre quis um amor

que falasse
que soubesse o que sentisse.
Sempre quis uma amor que elaborasse
Que quando dormisse
ressonasse confiança
no sopro do sono
e trouxesse beijo
no clarão da amanhecice.

Sempre quis um amor
que coubesse no que me disse.
Sempre quis uma meninice
entre menino e senhor
uma cachorrice
onde tanto pudesse a sem-vergonhice
do macho
quanto a sabedoria do sabedor.

Sempre quis um amor cujo
BOM DIA!
morasse na eternidade de encadear os tempos:
passado presente futuro
coisa da mesma embocadura
sabor da mesma golada.
Sempre quis um amor de goleadas
cuja rede complexa
do pano de fundo dos seres
não assustasse.
Sempre quis um amor
que não se incomodasse
quando a poesia da cama me levasse.
Sempre quis uma amor
que não se chateasse
diante das diferenças.

Agora, diante da encomenda
metade de mim rasga afoita
o embrulho
e a outra metade é o
futuro de saber o segredo
que enrola o laço,
é observar
o desenho
do invólucro e compará-lo
com a calma da alma
o seu conteúdo.
Contudo
sempre quis um amor
que me coubesse futuro
e me alternasse em menina e adulto
que ora eu fosse o fácil, o sério
e ora um doce mistério
que ora eu fosse medo-asneira
e ora eu fosse brincadeira
ultra-sonografia do furor,
sempre quis um amor
que sem tensa-corrida-de ocorresse.
Sempre quis um amor
que acontecesse
sem esforço
sem medo da inspiração
por ele acabar.
Sempre quis um amor
de abafar,
(não o caso)
mas cuja demora de ocaso
estivesse imensamente
nas nossas mãos.
Sem senãos.
Sempre quis um amor
com definição de quero
sem o lero-lero da falsa sedução.
Eu sempre disse não
à constituição dos séculos
que diz que o "garantido" amor
é a sua negação.
Sempre quis um amor
que gozasse
e que pouco antes
de chegar a esse céu
se anunciasse.

Sempre quis um amor
que vivesse a felicidade
sem reclamar dela ou disso.
Sempre quis um amor não omisso
e que sua estórias me contasse.
Ah, eu sempre quis um amor que amasse.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

HOMEM-TUPPERWARE



* Xico Sá


Minha amiga M.Y. se especializou em pegar aquele tipo de homem noturno e boêmio que não economiza nos tragos e, invariavelmente, retorna para o rancho sem condições técnicas para a conjunção carnal ou qualquer abofelamento que possa se chamar de sexo. São os melhores, ela prega: a excelência, o suprassumo, o filé em matéria de abate e diversão em tempos modernos. A este ser avulso, clandestino e simpático, que à noite ronda a cidade, batizamos de homem-tupperware.
A desalmada M.Y., típica predadora do ciclo do macho perdido, nos explica a terminologia adotada no folclore baladeiro: trata-se do sujeito que a gente guarda no final da noite para comer na manhã seguinte. O homem-tupperware, ela diz, com toda a sinceridade desse mundo, é o novissimo Casanova, um monstro na cama, um demônio, desde que seja respeitado no seu intocável estado de porre. Ele desperta com a fúria dos grandes e imbatíveis amantes, relata a moça, ainda com os lábios febris a derreter o gloss da tara e do desejo.
O macho desse gênero é uma dócil criatura que não dá quase trabalho, prossegue a bela afilhada de Balzac, um mulherão para 300 talheres. Segundo M.Y., esse tipinho de homem se encontra ali na faixa dos 40 ou mais, já foi casado ou se trata de um solteiro convicto e não vai grudar na barra da sua saia como faria um imaturo homem mais jovem.
O sujeito que se guarda como a um bom fiambre no tupperware, reforça a amiga, é um homem quase perfeito: apaga assim que deita na cama, portanto não corre o risco de desfiar besteiras ou tecer falsas promessas. É praticamente um homem sem mentiras, o que se torna um épico em se tratando da raça, diz M.Y., com mais uma demão nas suas peculiares tintas do exagero.
A criatura do gênero nem sempre percebe a sua condição de presa guardada para o abate matinal. A não ser os profissionais do ramo, figuras menos machistas que flanam pela noite com o desapego e o lirismo de um poeta do século XIX. Estes adoram e ainda fazem sonetos, com odes ao acaso, enquanto a predadora ingere sua inocente tigelinha de iogurte com cereais.
Para M.Y., é bom que se frise, pouco importa se o tal sujeito tem pendores românticos ou não passa de um tosco que usa apenas 10 por cento da cabeça animal. O que vale é a serventia da presa, ri a desgraçada, enquanto mapeia a geografia boêmia para os próximos ataques como um tubarão recifense que mira as canelas dos surfistas mais cevadinhos de Boa Viagem.
Sim, a amiga especialista reconhece: com a lei seca no volante diminuiu um pouquinho, um pouquinho de nada mesmo, o número de homem-tupperware dando sopa nos bares e botecos. Esse tipo de macho, além de prevenido, tem uma confiança danada no próprio taco –já sai de casa dando como certa a carona do bonde chamado desejo.


* Texto extraído do blog do autor: http://www.carapuceiro.zip.net/

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Engravidou na porrada

Por Eduardo Haak


Alô, digo.

E aí, Edu, meu amigo diz. Tudo certo?

Tudo.

Ele pergunta se estou sentado. Digo que estou deitado, lendo jornal. Aí ele fala, ó, me dê os parabéns que eu vou ser pai.

O quê?

É. Vou ser pai.

Hum. Não sabia que você estava namorando. Ou que tinha se casado.

Sei lá. Tô namorando. Não tô. É a Fabiana.

Fabiana? Aquela que era, entre aspas, uma página definitivamente virada em sua vida?, digo, rindo.

Pois é. A gente voltou a sair há um tempo.

Eu disse, cara, eu sei lá, transar com ex pra mim... transar com ex pra mim é meio que incesto. Bom, e aí? Foi acidental a coisa, eu suponho.

Foi. Literalmente acidental.

Hum.A gente estava dando umazinha no carro.

Sei.

Eu fui deixá-la em casa, lá na Pompeia, aí a gente começou a dar uns malhos, a coisa foi esquentando, ela subiu no meu colo, a filha-da-puta estava sem calcinha, cara, não teve jeito, eu tirei o pau pra fora e enfiei nela.Sem camisinha, é claro.Edu, eu conheço a Fabiana.Conhece, ô se conhece. Tanto é que, quando me falou dela pela primeira vez, disse que ela era conhecida como a boqueteira number one da academia.Isso é passado. Quem é que não fez um estágio na galinhagem nessa vida?

Concordo, o.k. Eu só acho que essa coisa sua de sair trepando por aí sem camisinha meio temerária. Meio, não. Totalmente temerária.

Eu não saio por aí trepando sem camisinha. E você é muito paranoico, Edu.

É. Talvez eu seja.

Pô, lembra aquela vez lá na Limelight, você enfiou o dedo na b----- de uma coroa, depois viu que estava com um machucadinho, você tinha arrancado uma daquelas pelinhas perto da unha, aí você ficou desesperado, achando que ia morrer de aids?

Foi na Up and Down. E vocês foram bem filhos-da-puta. Ficaram contando piada do Cazuza pra mim.

Como é que era a piada mesmo?

"Você viu que o Cazuza tá surdo?" "É mesmo?" "É. Jesus chama, chama, chama ele, só que ele não escuta.

"Meu amigo ri e diz, então, deixa eu te contar o resto da história. A gente estava lá no carro, você sabe que eu sei me controlar bem, se eu quiser trepar uma noite inteira sem gozar eu consigo, na boa, só que aí vinha um carro descendo a Diana, acho que o cara estava bêbado, só podia estar, pra fazer a cagada que ele fez, eu só sei que quando percebi eu só senti o tranco, pumba.

O cara bateu no seu carro, parado?

Bateu.

Puta merda.

Uma puta porrada na lateral. E o corno fugiu, é lógico.

E aí?

E aí que, no susto, sei lá, descarga de adrenalina, eu perdi o controle. Eu gozei. Gozei dentro dela.

Quer dizer então que a coisa foi uma porrada. Literalmente.

Literalmente.

Bom, meu caro, o que eu posso te dizer?

Parabéns.

Obrigado.

Já escolheram o nome do bebê?Ainda não. Sugere algum?Sei lá. Twingo? Clio? Pode ser Belina, se for menina.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

O Criscão


Por Aguinaldo Valença


Longe de mim a intenção de desrespeitar ou mesmo discutir, assuntos relativos às religiões, crenças, seitas ou opiniões de quem quer que seja sobre o tema, mesmo quando tenho convicção. Respeito a todos, sem distinção. Mas, permito-me o direito, de aos sessenta e um anos de idade, na qualidade de católico e de convivência pacífica com Adventistas do Sétimo Dia, externar os meus pontos de vista sobre o assunto.

Não sou vidente, não tenho premunições, tampouco conhecimento profundo sobre a matéria. Mas diante da tantas evidências em voga na atualidade, não preciso de nenhum poder sobrenatural para enxergar que o TÃO está sendo engolido pelo CÃO.

Desde os tempos de criança, quando estudava catecismo, ouço estórias mirabolantes de todas as crendices. Umas muito penosas outras já nem tanto. Questionava algumas. Como exemplo: Natal, quando um anjo desce sobre a terra e diz:” eu vos anuncio uma grande alegria!” e essa alegria nunca chega. Continua tudo do mesmo jeito, faz dois mil anos. Os anjos restantes ficavam no céu, cantando e tocando trombetas, desejando paz aos homens de boa vontade. Os sobrantes saiam mundo a fora, pelas casas, distribuindo presentes às crianças cujos pais tinham dinheiro para comprar. Aos pobres, miseráveis e inocentes, não lhe concediam nenhum presente. Sempre se arrumava uma historia de trancoso para justificar essa falha divina. Às vezes alegavam que eles não mereciam, por conta de alguma desobediência, fosse aos pais, aos professores ou mesmo aos mais velhos. Impingiam nesses inocentes, um sentimento de culpa que não tardaria em virar revolta e cujas imprevisíveis conseqüências não demorariam. Tudo isso a custa de mentiras para sustentar uma cristandade falsa. Tamanha injustiça fazia nascer o sentimento de inveja pelo alheio, alem de criar dúvidas sobre a existência de um Deus que só agradaria aos ricos. Questionava também a quantidade de anjos a distribuir presentes pelas casas de todo o mundo. Achava que tinha anjo de mais.

Histórias desse tipo me faziam pensar e questionar a sua veracidade. Até hoje não as engulo por achar que não têm sustentação alguma.

Sofrimentos desnecessários impostos às pessoas, como justificativas de provações, também me intrigavam. Provações a que e por quê? Castigos divinos por pura vingança. Pobres sempre perseguidos pelos ricos. Ricos malvados, sanguinários, injustos por não querer dividir fortunas oriundas muitas vezes, de sacrifícios de vida etc. fatos esses nos foram ensinados, principalmente pela igreja católica que sempre pregou isso, como forma de lavar a mente pensante, quando ainda em formação. Tudo isso achava muito estranho. Acho até que havia concorrência por fortunas.

Às vezes, quando freqüento a minha igreja, - da qual eu não tenho nenhuma ripa sequer, por conta de algum casamento ou missa de defunto, atenho-me às imagens e não vejo nenhuma contente, sorrindo. Só vejo imagens tristes, chorando, com lanças cravadas no coração, coroas de espinho e outras coisas tristes que compõem o cenário do templo consagrado ao culto de alguma divindade. Pura demagogia, para melhor lavar a mente dos de boa e má fé. Observo, por conseguinte, que naquele tempo já existiam barbáries iguais ou piores das que estamos vivenciando nos dias de hoje, e. como antigamente, quase sempre quem paga é o inocente.

Do Hinduismo, passando pelo Judaísmo, o Budismo, Cristianismo, Pelas culturas Maias e Incas, sem falar nos Índios e nos povos Africanos, vemos que o mundo verte sangue todos os dias. Sangue de guerras, de genocídios, de cataclismo e de outras tantas formas violentas por obra e graça do Satanás que tenta os humanos, desde os primórdios. Hoje vivemos na era do Banditismo. Acredito até que o anjo Lúcifer já tenha conseguido dois terços dos anjos revoltosos, e não um terço apenas, como na história.

Homem de boa vontade, só se for boa vontade para si. O que se vê são pessoas cheias de ódio e rancor, ávidos por desejos espúrios, corruptos, egoístas, que roubam, matam estupram, sem se importar idade ou graus de parentesco. Pais que matam filhos, filhos que matam pais, religiões que proliferam a cada dia, cuja finalidade é tirar na marra, os parcos recursos dos miseráveis, desesperados, que acreditam em falsas promessas e milagres inverossímeis. Os meios de comunicação tomados por diversas seitas, dia e noite, promovendo uma lavagem cerebral cotidiana, nas mentes cheias de esperanças. A imperiosa globalização, por sua vez, está ruborizando as pessoas, tirando-lhes os sentimentos nobres e impingindo-lhes os sentimentos mesquinhos, onde prevalecem os vícios capitais.

O que existe hoje é Satanás. Um monte deles. É nossa mente dividida entre o Céu e o Inferno, sem saber discernir para que lado vá. Como dizia um sábio chinês, quando indagado sobre qual dos dois cachorros que brigam diariamente na nossa mente ganharia a briga, ele respondeu: o que estiver mais bem alimentado. Neste caso, o segundo está predominando.
Aliada a isso, vem na retaguarda, à famigerada política, praticando atos, através dos seus membros, que envergonham a todos de bom senso.

Preocupa-me o tipo de gente que teremos mais adiante. Qual a conduta adequada a seguir? Em quem um filho irá se espelhar daqui a bem pouco tempo? No pai que vive a custa do que lhe dão, de esmolas, ou num espertalhão que vive iludindo a sociedade com todo tipo de mentira? Acho que a criança já vai nascer com o gene tendencioso ao errado.

No meu entender, quando perceberem que nada do que lhes está sendo apregoado acontece, aconteceu e nem vai acontecer, vão lutar por uma mudança radical na sociedade político-religiosa. Em isso ocorrendo, por certo, haverá derramamento de sangue novo e de gente.

Não me incomoda o fato de ser um CRISCÃO, mas, um Criscão verdadeiro, sem demagogia, justo, sincero e honesto com o meu semelhante.


segunda-feira, 29 de junho de 2009

Flores

Por Hugo de Andrade
As flores
são mágicas,
assim como as palavras
que eventualmente
nos prendem,
nos libertam,
dilaceram, esmagam
amam e afagam.
Ambas criam
Momentos.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Eu não sei se já vi uma bromélia

Por Júlio Castro



Ontem eu tive a impressão de ter visto uma bromélia. Enfim, pra ser sincero eu não sei bem se era, já que eu acho que nunca vi uma bromélia antes. Mas eu estava passando perto de sua casa e me lembrei daquele dia em que seu tênis desamarrou e estava chovendo bastante e eu parei pra amarrar. E me ajoelhei e sujei todo meu joelho de lama e você pra me sacanear tirava o pé toda hora e eu comecei a correr atrás de você. Nos sujamos de barro naquele dia e pelo que me lembro não tinha nenhuma bromélia por lá. Ou podia até ter, já que eu não sei se antes disso eu já tinha visto uma bromélia. Nós rimos tanto naquele dia da chuva porque você passou um dedo de barro no meu rosto e eu passei um pouco de lama em seu cabelo, ou acho que foi o vinho que tínhamos tomado sob aquele sol frio de outono, ou foi o riso frouxo que sempre fez parte do nosso repertório de músicas bregas, ou sei lá, só rimos porque estávamos felizes naquele dia de chuva em que seu cadarço desamarrou e eu abaixei para amarrar. E tomamos banho de chuva pra limpar a lama do rosto, do joelho, do pé, do cabelo. E enrugamos os dedos de tão molhados. E ficamos nos beijando na garoa. E corremos como loucos atrás de um chuveiro quente. E naquele dia eu fui tão feliz que doía demais o medo de não ser tão feliz no dia seguinte. E eu não sei se fui. Não… não sei se me expressei bem. Não é que não tenha sido feliz em outros dias. É que não sei falar de outros dias tão bonitos como aquele. Assim como não sei falar das bromélias. É que não sei se já as vi. E não sei se os senti. Mas eu acho que vi uma bromélia hoje. Que eu nem sei se era uma bromélia de verdade.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Mulher de 30


Por Mario Prata

O
que mais as espanta é que, de repente, elas percebem que são balzaquianas. Mas poucas balzacas leram A Mulher de Trinta, do Honoré de Balzac, escritomais de 150 anos. Olhe o que ele diz:

“Uma mulher de trinta anos tem atrativos irresistíveis. A mulher jovem tem muitas ilusões, muita inexperiência. Uma nos instrui, a outra quer tudo aprender e acredita ter dito tudo despindo o vestido. (...) Entre elas duas há a distância incomensurável que vai do previsto ao imprevisto, da força à fraqueza. A mulher de trinta anos satisfaz tudo, e a jovem, sob pena de não sê-lo, nada pode satisfazer”.

Madame Bovary, outra francesa trintona, era tão maravilhosa que seu criador chegou a dizer diante dos tribunais: “Madame Bovary c’ést moi”. E a Marylin Monroe que fez tudo aquilo entre 30 e 40?

Mas voltemos à nossa mulher de trinta, a brasileira-tropicana, aquela que podemos encontrar na frente das escolas pegando os filhos ou num balcão de bar bebendo um chope sozinha. Sim, a mulher de trinta bebe. A mulher de trinta é morena. Quando resolve fazer a besteira de tingir os cabelos de amarelo-hebe passam, automaticamente a terem 40. E o que mais encanta nas de trinta é que parecem que nunca vão perder aquele jeitinho que trouxeram dos 20. Mas, para isso, como elas se preocupam com a barriguinha.

A mulher de trinta está para se separar. Ou se separou. São raras as mulheres que passam por esta faixa sem terminar um casamento. Em compensação, ainda antes dos quarenta elas arrumam o segundo e definitivo.

A grande maioria têm dois filhos. Geralmente um casal. As que ainda não tiveram filhos se tornam um perigo, quando estão ali pelos 35. Periga pegarem o primeiro quarentão que encontrarem pela frente. Elas querem casar.

Elas talvez não saibam, mas são as mais bonitas das mulheres. Acho até que a idade mínima para concurso de miss deveria ser 30 anos. Desfilam como gazelas, embora eu nunca tenha visto uma (gazela). Sorriem e nos olham com uns olhos claros. notou que elas têm olhos claros? E as que usam uns cabelos longos e ondulados e ficam a todo momento jogando as melenas para trás? É de matar.

O problema com esta faixa de idade é achar uma que não esteja terminando alguma tese ou TCC. E eu pergunto: existe algo mais excitante do que uma médica de 32 anos, toda de branco, com o estetoscópio balançando no decote do seu jaleco diante daqueles hirtos seios? E mulher de trinta guiando jipe? Covardia.

A mulher de trinta ainda não fez plástica. Não precisa. Está com tudo em cima. Ela, ao contrário das de vinte, nunca ficaram. Quando resolvem vão pra valer. Fazem sexo como se fosse a última vez. A mulher de trinta morde, grita, sua como ninguém. Não finge. Mata o homem, tenha ele vinte ou 50. E o hálito, então? É fresco. E os pelinhos nas costas, pra baixo, que mais parecem pele de pêssego, como diria o Machado se referindo a Helena que, infelizmente, nunca chegou aos 30?

Mas o que mais me encanta nas mulheres de trinta é a independência. Moram sozinhas e suas casas tem ainda um frescor das de 20 e a maturidade das de 40. Adoram flores e um cachorrinho pequeno. Curtem janelas abertas. Elas sabem escolher um travesseiro. E amam quem querem, a hora que querem e onde querem. E o mais importante: do jeito que desejam.

São fortes as mulheres de trinta. E não têm pressa pra nada. Sabem onde vão chegar. E sempre chegam.

Chegam atrás, no Balzac: “a mulher de trinta anos satisfaz tudo”.

Ponto. Pra elas.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

12 de junho

por André Muhle

Em 12 de junho de 1931, dois tenentes da aeronáutica
embarcaram num vôo do Rio para São Paulo,
levando a bordo duas cartas comuns.
Era a primeira vez na história desse país
que uma correspondência seria transportada pelo ar.
Como naquele dia o vento estava muito forte,
a viagem durou bem mais do que o esperado.
Os dois tenentes chegaram tarde da noite em Sampa,
e como estava escuro acabaram pousando no lugar errado.
Resolveram então pegar um táxi até a Central dos Correios
onde finalmente puderam deixar as benditas cartas.
E sabe pra que tudo isso? Pra porra nenhuma.
Quantas pessoas sabem que depois desse episódio,
12 de junho virou oficialmente o Dia do Correio Aéreo Nacional?
Tá certo que grande parte disso é culpa dos Shoppings
Centers e das operadoras de telefone que, preocupados em
vender cada vez mais, fazem filmes lindos para
o Dia dos Namorados e esquecem do nosso estimado
Correio Aéreo Nacional. Esse órgão tão importante para
o nosso…o nosso…o nosso…o nosso espaço aéreo, claro.
Agora vamos aonde eu quero chegar com tudo isso.
Se você está aí solteira, abandonada em casa,
assistindo Um Lugar Chamado Notting Hill e tomando
sozinha um pote de Haagen Dazs de Macadamia,
puta da vida porque hoje é 12 de junho e você
não tem motivo nenhum para comemorar,
está mais que na hora de mudar essa história.
Levante sua cabeça, estufe seu peito e sinta
um orgulho enorme pelo dia de hoje.
Chame seus amigos e suas amigas solteiras e vá
imediatamente para um barzinho mais próximo.
Ergam seus copos e brindem ao nosso grande,
único e incomparável Correio Aéreo Nacional.
É o mínimo que se pode fazer para homenagear
esse homens que desde 1931 atravessam o céu,
levando suas cartas para lá e para cá do país.
Assim, eu espero que de hoje em diante
seus 12 de junho nunca mais sejam os mesmos.
E tenho dito.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

A saudosa arte do encontro

De onde vem este medo que desenvolvemos de não encontrar o outro?

Lembra que antigamente não existia celular? Era um mundo estranho, onde as pessoas não se sentiam incompletas sem o aparelhinho por perto. Um mundo diferente, onde as pessoas se encontravam. Era assim, quem queria se ver marcava um encontro. Estipulava-se hora e local, tempo de tolerância, no caso dos mais organizados e, pronto. Não era necessário mais nada. Os encontros podiam acontecer em praças, na praia, no meio da rua, na frente do cinema. Os cinemas ficavam nas ruas. Tinham calçadas na frente.

Nestas antigamências – com licença para o neologismo -, as pessoas simplesmente acreditavam que, se o encontro estava marcado, certamente iriam se ver. Claro, que existiam os bolos, mas estes eram uma maneira muito objetiva de dizer: “Eu não te quero”. Agora, com estas empresas de telefonia doidas, ficamos sem saber se o sms chegou ou não, ou se aquele alguém não quer atender ou esqueceu o celular em casa. Mas na verdade, quem é que anda sem celular? Quem não voltou para buscá-lo quando percebeu que o esqueceu? Quem não checa as ligações perdidas quando a bateria acabou? Se o telefone tocou até cair na caixa e a pessoa nunca retornou, se o sms nunca teve resposta, a mensagem é a mesma: ele(a) não te quer. Quem não tem medo disso?

Se o sms nunca teve resposta, a mensagem é a mesma: ele(a) não te quer


E nos casos em que, finalmente, duas pessoas decidem que querem ou precisam estar juntas, engendram um processo de monitoramento até o tête-à-tête. É mais ou menos assim:

Pessoa 1: - Oi... (O identificador de chamadas já denuncia quem liga)
Pessoa 2: - Oi, tá se arrumando?
Pessoa 1: To, daqui a 5 minutos eu devo estar saindo. Eu aviso.
Pessoa 2: Ok, quando estiver chegando dá uma ligadinha.
Pessoa 1: Ta certo, quem chegar primeiro avisa ao outro.
Pessoa 2: Certo, beijo.
Pessoa 1: Beijo.

Dez minutos depois...

Pessoa 2: Olha, vou demorar um pouco, está engarrafado aqui. Quando eu chegar te ligo.
Pessoa 1: Ah, ta certo. Eu já estou chegando. Quando chegar, me avisa.
Pessoa 2: Pode deixar.

Quinze minutos depois...

Pessoa 1: Oi... Cadê tu que não chega?
Pessoa 2: Estou aqui.. Cadê você?
Pessoa 1: Estou aqui também, ué... Cadê você?
Pessoa 2: Ah, estou te vendo! Olha para trás! Mais pra direita, mais um pouco! Agoora! Ta me vendo?
Pessoa 1: Ahh.. Tá, vem. Beijo, Tchau.

De onde vem este medo que desenvolvemos de não encontrar o outro? Será o medo atávico da solidão? Ou será o vício da acessibilidade ininterrupta, do feedback imediato? Será por isso que desistimos tão facilmente das pessoas? Recolher informações sobre um indivíduo ficou tão simples que achamos que não é preciso saber mais nada, está tudo no flicrk ou orkut. E aí, possivelmente, perdemos a oportunidade de ver além da superfície.

Estes questionamentos inquietam a alma de quem os faz e os deixo para Zygmunt Bauman, que conhece mais da vida e é muito mais sabido do que eu. Mas uma coisa tenho observado: todos queremos encontrar alguém, mas – inseguros que somos – não temos coragem de nos dar.

Ana Quitéria é Cineasta, jornalista e colunista do JC online:
http://jc.uol.com.br/coluna/aleatoria/index.php
Texto utilizado com autorização da autora