As flores
são mágicas,
assim como as palavras
que eventualmente
nos prendem,
nos libertam,
dilaceram, esmagam
amam e afagam.
Ambas criam
Momentos.
segunda-feira, 29 de junho de 2009
Flores
quinta-feira, 18 de junho de 2009
Eu não sei se já vi uma bromélia
Ontem eu tive a impressão de ter visto uma bromélia. Enfim, pra ser sincero eu não sei bem se era, já que eu acho que nunca vi uma bromélia antes. Mas eu estava passando perto de sua casa e me lembrei daquele dia em que seu tênis desamarrou e estava chovendo bastante e eu parei pra amarrar. E me ajoelhei e sujei todo meu joelho de lama e você pra me sacanear tirava o pé toda hora e eu comecei a correr atrás de você. Nos sujamos de barro naquele dia e pelo que me lembro não tinha nenhuma bromélia por lá. Ou podia até ter, já que eu não sei se antes disso eu já tinha visto uma bromélia. Nós rimos tanto naquele dia da chuva porque você passou um dedo de barro no meu rosto e eu passei um pouco de lama em seu cabelo, ou acho que foi o vinho que tínhamos tomado sob aquele sol frio de outono, ou foi o riso frouxo que sempre fez parte do nosso repertório de músicas bregas, ou sei lá, só rimos porque estávamos felizes naquele dia de chuva em que seu cadarço desamarrou e eu abaixei para amarrar. E tomamos banho de chuva pra limpar a lama do rosto, do joelho, do pé, do cabelo. E enrugamos os dedos de tão molhados. E ficamos nos beijando na garoa. E corremos como loucos atrás de um chuveiro quente. E naquele dia eu fui tão feliz que doía demais o medo de não ser tão feliz no dia seguinte. E eu não sei se fui. Não… não sei se me expressei bem. Não é que não tenha sido feliz em outros dias. É que não sei falar de outros dias tão bonitos como aquele. Assim como não sei falar das bromélias. É que não sei se já as vi. E não sei se os senti. Mas eu acho que vi uma bromélia hoje. Que eu nem sei se era uma bromélia de verdade.
quarta-feira, 17 de junho de 2009
Mulher de 30
O
“Uma
A
A
O
A
Chegam
sexta-feira, 12 de junho de 2009
12 de junho
Em 12 de junho de 1931, dois tenentes da aeronáutica
embarcaram num vôo do Rio para São Paulo,
levando a bordo duas cartas comuns.
Era a primeira vez na história desse país
que uma correspondência seria transportada pelo ar.
Como naquele dia o vento estava muito forte,
a viagem durou bem mais do que o esperado.
Os dois tenentes chegaram tarde da noite em Sampa,
e como estava escuro acabaram pousando no lugar errado.
Resolveram então pegar um táxi até a Central dos Correios
onde finalmente puderam deixar as benditas cartas.
E sabe pra que tudo isso? Pra porra nenhuma.
Quantas pessoas sabem que depois desse episódio,
12 de junho virou oficialmente o Dia do Correio Aéreo Nacional?
Tá certo que grande parte disso é culpa dos Shoppings
Centers e das operadoras de telefone que, preocupados em
vender cada vez mais, fazem filmes lindos para
o Dia dos Namorados e esquecem do nosso estimado
Correio Aéreo Nacional. Esse órgão tão importante para
o nosso…o nosso…o nosso…o nosso espaço aéreo, claro.
Agora vamos aonde eu quero chegar com tudo isso.
Se você está aí solteira, abandonada em casa,
assistindo Um Lugar Chamado Notting Hill e tomando
sozinha um pote de Haagen Dazs de Macadamia,
puta da vida porque hoje é 12 de junho e você
não tem motivo nenhum para comemorar,
está mais que na hora de mudar essa história.
Levante sua cabeça, estufe seu peito e sinta
um orgulho enorme pelo dia de hoje.
Chame seus amigos e suas amigas solteiras e vá
imediatamente para um barzinho mais próximo.
Ergam seus copos e brindem ao nosso grande,
único e incomparável Correio Aéreo Nacional.
É o mínimo que se pode fazer para homenagear
esse homens que desde 1931 atravessam o céu,
levando suas cartas para lá e para cá do país.
Assim, eu espero que de hoje em diante
seus 12 de junho nunca mais sejam os mesmos.
E tenho dito.
quinta-feira, 11 de junho de 2009
A saudosa arte do encontro
Lembra que antigamente não existia celular? Era um mundo estranho, onde as pessoas não se sentiam incompletas sem o aparelhinho por perto. Um mundo diferente, onde as pessoas se encontravam. Era assim, quem queria se ver marcava um encontro. Estipulava-se hora e local, tempo de tolerância, no caso dos mais organizados e, pronto. Não era necessário mais nada. Os encontros podiam acontecer em praças, na praia, no meio da rua, na frente do cinema. Os cinemas ficavam nas ruas. Tinham calçadas na frente.
Nestas antigamências – com licença para o neologismo -, as pessoas simplesmente acreditavam que, se o encontro estava marcado, certamente iriam se ver. Claro, que existiam os bolos, mas estes eram uma maneira muito objetiva de dizer: “Eu não te quero”. Agora, com estas empresas de telefonia doidas, ficamos sem saber se o sms chegou ou não, ou se aquele alguém não quer atender ou esqueceu o celular em casa. Mas na verdade, quem é que anda sem celular? Quem não voltou para buscá-lo quando percebeu que o esqueceu? Quem não checa as ligações perdidas quando a bateria acabou? Se o telefone tocou até cair na caixa e a pessoa nunca retornou, se o sms nunca teve resposta, a mensagem é a mesma: ele(a) não te quer. Quem não tem medo disso?
Se o sms nunca teve resposta, a mensagem é a mesma: ele(a) não te quer
E nos casos em que, finalmente, duas pessoas decidem que querem ou precisam estar juntas, engendram um processo de monitoramento até o tête-à-tête. É mais ou menos assim:
Pessoa 1: - Oi... (O identificador de chamadas já denuncia quem liga)
Pessoa 2: - Oi, tá se arrumando?
Pessoa 1: To, daqui a 5 minutos eu devo estar saindo. Eu aviso.
Pessoa 2: Ok, quando estiver chegando dá uma ligadinha.
Pessoa 1: Ta certo, quem chegar primeiro avisa ao outro.
Pessoa 2: Certo, beijo.
Pessoa 1: Beijo.
Dez minutos depois...
Pessoa 2: Olha, vou demorar um pouco, está engarrafado aqui. Quando eu chegar te ligo.
Pessoa 1: Ah, ta certo. Eu já estou chegando. Quando chegar, me avisa.
Pessoa 2: Pode deixar.
Quinze minutos depois...
Pessoa 1: Oi... Cadê tu que não chega?
Pessoa 2: Estou aqui.. Cadê você?
Pessoa 1: Estou aqui também, ué... Cadê você?
Pessoa 2: Ah, estou te vendo! Olha para trás! Mais pra direita, mais um pouco! Agoora! Ta me vendo?
Pessoa 1: Ahh.. Tá, vem. Beijo, Tchau.
De onde vem este medo que desenvolvemos de não encontrar o outro? Será o medo atávico da solidão? Ou será o vício da acessibilidade ininterrupta, do feedback imediato? Será por isso que desistimos tão facilmente das pessoas? Recolher informações sobre um indivíduo ficou tão simples que achamos que não é preciso saber mais nada, está tudo no flicrk ou orkut. E aí, possivelmente, perdemos a oportunidade de ver além da superfície.
Estes questionamentos inquietam a alma de quem os faz e os deixo para Zygmunt Bauman, que conhece mais da vida e é muito mais sabido do que eu. Mas uma coisa tenho observado: todos queremos encontrar alguém, mas – inseguros que somos – não temos coragem de nos dar.
Ana Quitéria é Cineasta, jornalista e colunista do JC online:
http://jc.uol.com.br/coluna/aleatoria/index.php
Texto utilizado com autorização da autora