segunda-feira, 8 de março de 2010

Se eu fosse o mar

Por Hugo de Andrade


Quando estou quase desperto, fico mais próximo do mundo dos sonhos e parece que a imaginação corre solta, então incorporo idéias e viajo de modo a vivenciar um mundo paradisíaco. Hoje porém ambiciono mais, vivo mais e divido meu sonho:qual seja, a tal idéia de ser outro sujeito. Assim navego em mim mesmo...

Se eu fosse o mar, uma conjectura pouco tímida e fascinante na verdade, pois a possibilidade me trouxe tantas questões quantas foram as ondas que em uma breve olhada pude perceber em meu litoral.

Perguntei-me principalmente onde e em qual lugar existiria; em qual litoral aportaria e a quem acolheria em abraços próximos e salgados? Qual areia revolveria se eu fosse mar? Quantas idéias me inquietaram o espírito e me transportaram para longe de mim mesmo, de tal modo que em pouco tempo havia percorrido um mundo abissal, frio e misterioso das profundezas salgadas e me aquietado em sua superfície calma, brilhante, transparente e cheia de vida.

Voei sobre minha superfície, nadei em minhas águas mornas e frias e salgadas, e também mergulhei em mim mesmo ao lado de peixes e plantas marinhas...

Percorri com esperança a idéia de me conhecer, mas, doce ilusão até perceber quão profundo e desconhecido eu sou, ou melhor, somos, pois que plural nós somos.

Sei contudo que encontraria quem perdido estivesse em um barco qualquer e sei também que feliz eu-mar refletiria o sol, a lua e estrelas. Banhar-me-ia em água doce durante a tempestade e alimentaria peixes e planctons e mamíferos e rochas, pois que a vida é plena.

Se eu fosse o mar me reconheceria plural e singular, pois que ninguém existe por si só.

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